CÃO DE ÁGUA PORTUGUÊS
Ch Int, Pt, Es, Lux, Gib, Fr, Ar, BIS05, JP03, BISS04, BOB04, BOG04,
BISS05, EW05, WW05, EW06, ACW, AR Gr Ch
Prop. : Isabel Santos
ESTALÃO DA RAÇA
Em épocas
muito remotas o Cão de Água teve o seu solar em todo o litoral
português. Hoje, pela contínua modificação da arte da pesca,
encontra-se principalmente no Algarve, região esta que é o seu
solar. A sua presença nas costas de Portugal deve remontar a
épocas muito idas, devendo o Cão de Água ser considerado como
uma raça do país.
I - ASPECTO GERAL E APTIDÕES
Cão mesomorfo, sub-convexilíneo com tendências para
rectilíneo; tipo bracóide.
Nadador e mergulhador exímio e resistente, é inseparável
companheiro do pescador, a quem presta inúmeros serviços, tanto
na pesca como na guarda e defesa do seu barco e propriedade.
Durante a faina da pesca, atira-se voluntariamente ao mar para
apanhar e trazer o peixe escapado, mergulhando se for necessário,
e procedendo da mesma forma se alguma rede se parte ou algum cabo
se solta. É empregado também como agente de ligação entre o
barco e a terra, e vice-versa, mesmo quando a distância é
apreciável.
Animal de inteligência invulgar, compreende e obedece facilmente
com alegria a todas as ordens ao seu dono.
Cão de temperamento ardente, voluntarioso e altivo, sóbrio e
resistente à fadiga. Tem a expressão dura e um olhar penetrante
e atento. Possui grande poder visual e apreciável sensibilidade
olfactiva.
Tipo mediolíneo, harmónico de formas, equilibrado, robusto e
bem musculado. Apreciável desenvolvimento muscular devido ao
constante exercício da natação.
II - CABEÇA
Bem proporcionada, forte e larga.
CRÂNIO - Visto de perfil o seu comprimento predomina levemente
sobre o do chanfro. A sua curvatura é mais acentuada
posteriormente e a crista occipital é pronunciada. Visto de
frente os parietais têm a forma abobada com leve depressão
central, a fronte é ligeiramente escavada, o sulco frontal
prolonga-se até dois terços dos parietais e as arcadas supra-ciliares
são proeminentes.
CHANFRO - Mais largo na base que na extremidade. A chanfradura
nasal é bem definida e situada um pouco atrás do canto interno
dos olhos.
NARINAS - Largas, abertas e de fina pigmentação. De cor preta
nos exemplares de pelagem preta, branca e suas combinações. Nos
acastanhados, a cor segue a tonalidade de pelagem, mas nunca deve
ser almarada.
BEIÇOS - Fortes especialmente na parte da frente. Comissura não
aparente. Mucosa bocal (céu da boca, debaixo da língua e
gengivas) acentuadamente pigmentada de preto.
MAXILAS - Fortes e correctas.
DENTES - Bons e não aparentes. Caninos fortes e desenvolvidos.
OLHOS - Regulares, aflorados, arredondados, afastados e levemente
oblíquos. A coloração da íris é preta ou castanha e as
pálpebras, que são finas, orladas de preto. Conjuntiva não
aparente.
ORELHAS - Inserção acima da linha dos olhos, colocadas contra a
cabeça, levemente abertas para trás e cordiformes. Leves e a
sua extremidade nunca ultrapassa a garganta.
III - TRONCO
PESCOÇO - Direito, curto, redondo, musculado, bem lançado e de
porte alto, ligando-se ao tronco de uma forma harmoniosa. Sem
colar nem barbela.
PEITO - Largo e profundo. O seu bordo inferior deve tocar o plano
do codilho. As costelas são compridas e regularmente oblíquas,
proporcionando grande capacidade respiratória.
GARROTE - largo e não saliente.
DORSO - Direito, curto, largo e bem musculado.
LOMBO - Curto e bem unido à garupa.
ABDÓMEN - Reduzido volume e elegante.
GARUPA - Bem conformada, levemente inclinada; ancas simétricas e
pouco aparentes.
CAUDA - Inteira, grossa à nascença e de fina terminação.
Inserção média. O seu comprimento não deve ultrapassar o
curvilhão. Na atenção enrola-se em óculo, não indo além da
linha média dos rins. É um precioso auxiliar na natação e
mergulho.
IV - MEMBROS ANTERIORES
Fortes e direitos.
ESPÁDUA - Bem inclinada de perfil e transversalmente. Forte
desenvolvimento muscular.
BRAÇO - Forte e de comprimento regular. Paralelo à linha média
do corpo.
ANTEBRAÇO - Comprido e de forte musculatura.
CARPO - Forte ossatura, mais largo de frente que de lado.
METACARPO - Longo e forte.
MÃO - Arredondada e espalmada. Dedos pouco arqueados, de
comprimento médio. A membrana digital, que acompanha o dedo em
todo o seu comprimento, é constituída por tecidos flácidos e
guarnecida por abundante e comprida pelagem. As unhas pretas são
as preferidas, mas, segundo as pelagens, também são admitidas
as brancas, raiadas ou castanhas. Unhas levemente afastadas do
solo. Sola rija no tubérculo plantar e de espessura normal nos
tubérculos digitais.
V - MEMBROS POSTERIORES
Bem musculados e direitos.
COXA - Forte e de regular comprimento. Muito bem musculada. A
rótula não se afasta do plano médio do corpo.
PERNA - Comprida e muito bem musculada. Não se afasta do plano
médio do corpo. Bem inclinada no sentido antero-posterior. Toda
a estrutura ligamentosa é forte.
NÁDEGA - Comprida e de boa curvatura.
TARSO - Forte.
METATARSO - Comprido. Nunca há dedos suplementares.
PÉS - Em tudo idênticos às mãos.
APRUMOS - Os aprumos dos membros anteriores e posteriores são
regulares. Admitem-se os membros anteriores levemente estacados e
os posteriores um pouco acurvilhados.
VI - PELAGEM
Todo o corpo se encontra abundantemente revestido de resistente
pêlo. Há duas variedades de pelagem: uma comprida e ondulada e
outra mais curta e encarapinhada.
A primeira variedade é ligeiramente lustrada e fofa, a segunda
atochada, baça e reunida em mechas cilindriformes. À excepção
dos sovacos e virilhas os pêlos distribuem-se por igual em todo
o tegumento. Na cabeça tomam o aspecto de trunfa, na pelagem
ondulada e de carapinha na outra variedade. O pêlo das orelhas
adquire maior comprimento na variedade de pelagem ondulada.
A coloração da pelagem é simples ou composta: naquela existe o
branco, preto e castanho nas suas tonalidades; nesta, misturas de
preto ou castanho com o branco.
A pelagem branca deve existir sem albinismo, pelo que as ventas,
bordos palpebrais e interior da boca devem ser pigmentados de
negro.
Nos exemplares onde entram as cores preta e branca a pele é
ligeiramente azulada.
Pelugem não tem.
É característica nesta raça a tosquia parcial da pelagem,
quando esta se torna muito comprida. A metade posterior do corpo,
o focinho e a cauda são tosquiados, ficando todavia nesta uma
pequena borla na ponta.
VI - ALTURA
Nos machos a altura típica é de 54 cm, admitindo-se à
classificação um mínimo de 50 cm e um máximo de 57 cm.
Nas fêmeas a altura deve ser de 46 cm, com o mínimo e máximo
respectivamente de 43 e 52 cm.
VII - ANDAMENTOS
Movimentos desembaraçados, passo curto, trote ligeiro e
cadenciado, galope enérgico.
VIII - DEFEITOS
DESQUALIFICAÇÕES
CABEÇA - muito longa, estreita, chata e afilada;
CHANFRO - muito afunilado ou ponteagudo;
MAXILAS - prognatismo em qualquer das maxilas;
OLHOS - gázeos, claros, desiguais na forma ou no tamanho, muito
salientes ou muito encovados;
ORELHAS - má inserção, muito grandes, muito curtas ou dobradas;
CAUDA - amputada, rudimentar ou não existente, pesada, caída na
acção ou erecta perpendicularmente;
PÉS - existência de presunhos;
PELAGEM - albinismo, narinas almaradas no todo ou em parte, pêlo
diferente dos tipos, descritos;
CORPULÊNCIA - gigantismo ou nanismo;
SURDEZ - congénita ou adquirida.
TABELA DE PONTOS
Machos
Fêmeas
Cabeça: porte, crânio, orelhas, olhos, chanfro, boca, chanfradura nasal, ventas
20
20
Pescoço, garrote, espáduas, membros anteriores
10
7
Peito, rins, linhas superiores e inferiores do tronco
15
15
Garupa, bacia, membros posteriores
10
13
Pés, dedos, unhas
10
10
Cauda: porte, forma, inserção
5
5
Pêlo: textura, cor, densidade
5
5
Aspecto geral: harmonia de formas, andamentos, corpulência, caracteres sexuais
25
25
__________
__________
100
100
O ESTALÃO E A SUA INTERPRETAÇÃO
A COLORAÇÃO
Nas edições
de 1938 e 1951 do Estalão oficial da raça publicadas pela
Secção de Canicultura do Clube de Caçadores Portugueses, e
versão que ainda hoje em dia é a oficialmente utilizada pelo
Clube Português de Canicultura, podemos ler sob o capítulo
referente à PELAGEM a seguinte descrição referente à
coloração:
"A coloração da pelagem é simples ou composta: naquela
existe o branco, preto e castanho nas suas tonalidades; nesta,
misturas de preto ou castanho com branco."
Há alguns anos atrás, e com o aparecimento especialmente nos
EUA de diversos exemplares altamente interpolados a comissão do
C.P.C. então composta entre outros, da Dra. Maria Ana Marques,
do Dr. João Paula Bessa e de João Vieira Lisboa, grandes
conhecedores do Cão de Água, foi chamada a pronunciar-se sobre
a descrição da coloração da pelagem do cão de água contida
no estalão oficial do C.P.C..
O parecer da Comissão Técnica do C.P.C. foi então unânime.
Sendo chamado a definir a percentagem de branco aceite na
totalidade do manto do Cão de Água, indicou como percentagem
máxima de branco a de 30%. Indicou também de que forma a
interpolação poderia ocorrer, descrevendo a localização do
branco como ficando circunscrita às seguintes áreas: focinho,
pescoço, peitoral, ventre, parte inferior dos membros a partir
do cotovelo e curvilhões e ponta da cauda.
Se tomarmos como referência os exemplares figurados nos croquis
que a seguir se publicam, podem facilmente deduzir quais deles
estão dentro dos parâmetros aceites pelo estalão oficial.
Assim as figuras A, B, C e D não oferecem nenhuma dúvida quanto à correcção da sua coloração. Trata-se com efeito de 4 exemplares que vão do preto ou castanho unicolor (Figura A), até ao malhado de branco nos 4 membros, focinho, pescoço, ventre, peitoral e ponta da cauda (Figura D).
Os exemplares representados pelas Figuras E e F são exemplares malhados nos locais característicos, mas já atingindo o limite de 30% (Figura E) ou ultrapassando-o ligeiramente (Figura F). O exemplar da Figura E pode concorrer em exposições, enquanto que o exemplar da Figura F já deverá ser penalizado pelo excesso de extensão de malha branca se concorrer em exposições da F.C.I..
Os exemplares representados pelas Figuras G e H são exemplares brancos interpolados de castanho ou preto com predominância da cor branca já mostrando mancha que os considera "salgados".
Estes dois exemplares estão fora do estalão oficial do C.P.C. e deverão ser severamente penalizados em todas as exposições caninas regidas sob a regulamentação da federação Cinológica Internacional (FCI), não sendo aconselhável a sua utilização na reprodução.
MARIA ANA MARQUES
Médica Veterinária
Professora da E.S.M.V.